domingo, novembro 28

Desvarios.

      A mais de um mês descobri que uma doença crônica se instalou no meu cérebro. E ela nem ao menos me avisou que iria chegar. Nem ao menos bateu na porta ou me cumprimentou. Ela chegou e se instalou em todos os cômodos de meus pensamentos.
   Se tornou uma dependência química e física. Queria rir e chorar ao mesmo tempo. Queria apenas ficar na cama, queria sair dela. Queria que o tempo parasse, que ele voasse... me sinto uma louca com todo esse tormento.
    E logo eu, que sempre fui uma seguidora de Capelo Gaivota, que nunca estive presa a nada, estou agora ancorada nesse porto me acostumando com essa sensação esquisita de contradições, hiperboles, metáforas e antíteses que me fazem voar ainda mais alto mas sem sair do lugar.
          Os sintomas ficam piores. Quando a febre cede, meu corpo anseia por mais.
   Minhas mãos tremiam e o médico disse que não podia me ajudar. Era a abstinência acompanhando a minha dependência por essa doença crônica que eu teimo em amar. Eu estou de mãos amarradas.
  Eu quero gritar. Eu quero me calar. Meu reflexo não me reconhece mais. Ele diz que eu estou perdida então eu rio para ele e digo que é assim que eu quero estar. Ele diz que eu enlouqueci. E devo mesmo ter enlouquecido. Foi essa doença que trouxe esse cheiro, esses desvarios para mim.
   E esse coração aritmado, pulando num frisson desmiolado que não se contém nessa caixa pequena que por tanto tempo ele permaneceu inerte e que agora espera minuciosamente pelos segundos com você.
                     É, eu sou fraca demais, forte demais e necessitada demais de você.

quarta-feira, novembro 24

Realidade Social.

De mãos atadas. Você não pode fazer nada.
O medo toma conta e a esperança voa janela a fora.
Agarrada em seu tornozelo, sua sombra se esconde atrás de você.
Cadê a sua coragem, menina? Não consegue encarar o espelho?
O dia acorda, a noite dorme e o calor dos automóveis queimados consomem seu oxigênio.
Corpos e mais corpos de inocentes calçam as calçadas
E todo mundo anda de cabeça baixa,
Com opiniões e peitos estufados mas sem fazer nada.
Ninguém sabe fazer nada.
E Todos só sabem calar-se.
O bandido pinta a cidade de vermelho.
Acha graça na desgraça de uma mãe desamparada, numa lágrima derramada,
Na ignorância que o cega, na ilusão da violência.
Acabe com isso, eu lhe digo.
Não posso, ela me diz.
Não queira estar sempre nas sombras, eu lhe digo.
Não queira estar com o corpo manchado de vermelho, ela me diz com um sorriso forçado
Isso não é engraçado.
Ande de cabeça baixa. Não faça nada.
O bandido suja sua cidade de vermelho...
E você não pode fazer nada sem ter que sujar o seu peito.
Porque o Direitos Humanos diz que ele é cidadão.
Ele tem família, ele mata, ele tem um sorriso e uma arma. Ele mata.
Ele tem sangue nas mãos
E para ela só restou o conformismo, a acomodação.
Eu sou a favor da pena de morte.

quarta-feira, novembro 17

Manhã.

Acordei mais cedo que o de costume. O céu começava a clarear. O dia estava nublado mas eu não pensava nisso. Acordei porque a tua figura se aproximou. Senti ela na pele e sorri. Ela trouxe de volta o teu aroma que me embriagava debaixo da minha coberta. Havia um surdo no lugar do meu coração que batia em batidas de meio tempo. E me atrevo a dizer que se pudesse sentir o teu abraço, esse surdo dormiria feito criança. Porque você faz isso comigo e eu gosto do jeito que isso faz. Meu desejo pela tua presença estava lá, em cada parte do meu ser. Estava lá. Está aqui e amanhã também.

quarta-feira, novembro 3

Linha.

  As vezes eu acho que ninguém entende o que eu falo ou faço. E a maioria acha que me conhece bem. Acham que por eu ser travada eu não tenha vontade de cometer loucuras. Acham que por eu falar certas insanidades eu não seja tímida. Costumo surpreender pessoas e passar despercebida por elas. Estão sempre me subestimando. E eu rio com isso. Não costumo demonstrar calor. Mas sou quente por dentro. Alguns conseguem sentir só de olhar. Não sou grossa. Apenas não minto para ser agradável, como muitas pessoas fazem. Me sinto deslocada quase sempre. Me sinto parte do "todo" quase sempre. Eu simplesmente não consigo viver só de um lado da linha... ou viver na linha... eu sempre estou mudando.Tente me acompanhar sem ficar para trás. Eu te ajudo. Basta querer.