quinta-feira, julho 26

A Voz do Vento

  Meu canto não cantou a minha canção... No descuido do acaso perdeu a minha voz em algum canto da sala de estar, onde o vento a achou e a guardou a fim de ouvi-la chorar para si. Fazendo dela sua canção de ninar.
  Foi lá fora então que a chuva salpicou a janela do quarto. Meu olhar apático encontrou meus passos descalços sendo arrastados até a janela para ver a chuva refrescar a terra, para ver que lá fora tinha movimento. Enquanto tudo aqui dentro ia ficando seco.
  Eis que surge um par de lágrimas salinas que cismam em continuar a fazer de meu rosto, um grande escorrega, desses de parquinho de criança.
  Nesse momento meus olhos se fixaram em um ponto exato no canto da parede, por nenhum motivo.
Então, foi de repente, minha mente ficou branca.  nenhuma imagem. eu olhava para a parede. Eu olhava para o nada e o nada olhava de volta para mim.
  Eu abro a janelo e grito muda para o vento:
  "Por que você fez isso comigo?"
  E ele se pôs a sussurrar:
  "Porque você privou a tua voz de ser livre"

A Briga Reconciliada.

  Algumas palavras são ditas antes de pensadas. Saem sem entender aquelas outras palavras ditas por outros lábios, lábios as vezes mudos por gotas salgadas que deslizam pelos seus cantos. E alguém chora, e alguém se preocupa e as palavras se alinham pelo desalinho de linhas planejadas as pressas e que não foram pensadas.
  Há um beijo, uma discussão e as palavras se entrelaçam num contexto enrolado de ideias abaladas.
Ideias que surgem e voltam. Certezas errantes do acaso contínuo de um cotidiano à dois, onde uma discussão se prolonga por um pedido descuidado, não pensado e é discutido para escolher o certo e criticar o errado, mas a matemática ainda não sabe equacionar duas almas perdidas entre o céu e a terra.
 O casal sente a tristeza alheia que os machuca.
 Então surge o silêncio.
 Silêncio orgulhoso que espera algo acontecer. Mas o quê?
 Uma surpresa. Um beijo, um pedido de desculpas bem feito, um choro incessante, um abraço tímido. O sentimento que se põe entre dois corpos e duas ideias. Duas mentes diferentes que pensam iguais, dispostas a trabalharem juntas a fim e afim de permanecerem unidas em todos os sentidos, por todos os pensamentos. Tramadas e urdumadas numa tela onde se colore uma vida eterna entre esses dois amantes que não podem mais se separar.

Dramaturgia.

Eu havia me apaixonado pela dramaturgia
Pela doce melancolia,
E não sabia.

Quis fazer cinema,
Quis morrer de amor.
Quis não saber do que mais querer
Já quis ser um beija-flor.

Ansiei pela vida exorbitante.
Ansiei pela morte repentina.
Ansiei por uma história fictícia.

Já pensei sobre tudo
Já fiz muito o nada
Minha inquieta procura
Para abrandar a minha alma.

Julguei um livro pela capa
E fui envolvida por uma melancolia vívida.
Tracei planos inconsequentes fingindo ter alegria.

Ah, e é aí que você entra.
Fazendo drama e cena.
Um dramaturgo que monta um filme de cinema.
Filme de dois, apenas.

Me fez ficar extasiada com teu jeito
Intoxicada com teu cheiro
Me perdi para poder te encontrar

Um beijo na testa, um abraço apertado.
É a cena das nossas vidas
Que deu vida a minha vida
Há não menos que um ano atrás.


domingo, julho 15

Casmurrice


Venho aqui pra te dizer que não sofras mais.
Não há porquê se torturar.
E nem motivos para acusar
Este coração que só pede paz.

Não padeça de preocupação.
Não delire uma traição.
Por que ainda não entendeu?
A nossa história não é filme Europeu.

Você me tem como um dente de leão
Que a qualquer brisa fina, posso vir a desfalecer
Que eu vou cair nas garras de um gavião
E que nunca mais irá me ver.

Não me olhe com olhos de ressaca.
Vê se abaixa essa arma.
Não tenho culpa de nada.

Vê se te ocupas a se preocupar
Em fazer valer isso aqui.
Porque ninguém vai me tirar de ti.