quarta-feira, maio 4

Incompreensão

  Vendas. É só isso que vejo pelas ruas. Vendas de todas as cores, tampando olhos sem cores. Cegos por ignorar o senso. Cegos pela ausência de luz. 
  São corpos sem almas, sem perspectivas, afogados no senso comum de sua cegueira social. Preferindo ter suas bocas costuradas por um medo que retarda seus pensamentos, que descarta seus princípios. São cegos e mudos que olham tudo e falam de todos enquanto caminham, acompanhando os arranha-céus da cidade, perdidos entre altas estantes de uma biblioteca ou trabalhando na terra.
  
Mas não é tudo que espreita este azul inerte. Há também rostos com olhos e bocas trocados, virados pelo avesso, neurônios turgenciados, corações vegetalizados e ossos incapazes de aceitar a simplicidade das coisas, tornando-as pútridas, indignas de existência. Eles andam entre os corpos apáticos, vestindo roupas ordinárias, com o nariz virado para o Sol, tão negro quanto a sombra que os segue.
  
Essas gárgulas não guardam a Notre Dame, são devoradoras da felicidade alheia. Com uma voracidade imoral estraçalham sua alma e seu corpo. Deixam marcas da vergonha em seus pensamentos através de suas presas e talham o medo em seus ossos através de suas unhas. Elas destroem a sonoridade de seus sinos por eles serem absolutamente iguais.

  Um beijo harmônico, cheio de desejos em companhia de uma febre alta e prazerosa vira uma lágrima fria e vermelha entre esses corpos perfeitamente iguais. Apenas por serem iguais.
  
Diga-me gárgulas, o quê tanto temem? Porque temem tanto?
 Não adianta apontar para o céu que nenhuma voz lhes dirá sua preciosa resposta. Não adianta apontar para aqueles corpos distantes porque nenhum deles saberá a resposta. Mas afinal, o que o não conseguem compreender? Se Atenas compreendia tão bem, porque não vós?   Desvirem esses rostos e coloquem a cabeça no seu devido lugar e deixem as crianças se amarem do jeito que elas são. Outros iguais, iguais e diferentes de nós também existem. Eles voam, nadam e possuem até quatro patas! Até quando vós continuareis a negar o que enxergais tão bem?
   
Não, criança, não chores mais. Tuas chances neste mundo um tanto sem sabor e incolor, são menores que os grãos de areia, mas ainda carregam grandes esperanças, histórias e risos pelo teu caminho. Não precisas enganar tua sombra e mudar tua silhueta. Não tem porque se envergonhar. Deixe a vergonha para os que preferem fingir não te ver. 

7 comentários:

  1. Pára de ser perfeita nas coisas que você escreve, tá? kkkk' sério, ficou ótimo ! Eu simplesmente adorei. De fato é a mais pura verdade: as pessoas temem aquilo que desconhecem.

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  2. Muito bom, parabéns =)
    cada dia melhor, vc podia um dia lançar um apanhado desses textos num livro heim ;)

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  3. caramba, extremamente profundo e por mais que esses "gárgulas" tentem destruir a luz, sempre haverá pessoas como você pra escreverem as respostas e as perguntas pra salvar o dia de alguém ^^
    sério, eu ganhei o dia só de ter lido isso ^^
    um belo texto só poderia vir de uma bela autora ^^

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  4. "Há mil anos, a supestição e a espada governavam. Foi uma época de trevas, foi um mundo de medo. Foi a era dos GARGULAS!"(desculpa, num deu pra segurar xD)
    É foda, preconceito parece barata, quando a gente acha que matou a ultima, aparece mais cem ¬¬
    como dizia Lennon: "You may say I'm a dreamer, but i'm not the only one. I hope some day you can join us, and the world can be one" \o

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  5. Lindo texto ! Parabéns !

    Críticas são sempre bem vindas né ?

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  6. Muito bom, Pq vc n cria um Vlog e vira uma "Felipe Neto" kk

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  7. Infelismente, poucas pessoas percebem isto. E as que pouco percebem nada fazem e pior se vendem para esse capitalismo egoísta e manipulador.

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