sábado, abril 2

Agatha Medos

       Naquele momento, no meio daquele bosque, naquela chuva, eu só conseguia ouvir três coisas: o meu coração martelando o meu peito, a pressão no tímpano e Lucas gritando meu nome. Por mais que eu andasse não conseguia achá-lo. Aquela sensação de perda atingiu meu pulmão e agora me faltava ar. Eu não conseguia mais chamar por ele, não conseguia distinguir um palmo a minha frente. Caí de joelhos naquela terra molhada, desnorteada, quando um vento forte soprou o meu rosto e naquela minha visão turva eu achei a sua silhueta a uns 3 metros a minha frente.
      Ele usava uma camisa azul com a bermuda ocre que eu dei a ele no natal. Estava desmaiado perto de um carvalho doente, uma poça escura se apossa do seu peito e então percebo que filetes de sangue estão indo ao encontro do salgueiro. Eu tento me mexer mas minhas pernas afundam na terra, tento me segurar em qualquer coisa fixa mas é impossível. Tento gritar mas não consigo emitir som algum. A chuva fica mais densa e forma uma cortina quase sólida. Eu perco a visão de Lucas e apago.
       Me faltava ar. Em algum momento do sonho eu devo ter deixado de respirar ou pelo menos era essa a sensação que eu tinha. Levantei da cama com um pulo, tentei controlar a minha respiração, me acalmar. Estava toda ensopada de suor, me cabelo estava completamente molhado e eu estava morrendo de frio em pleno verão carioca as 3 horas da manhã. 
      Tomei um banho demorado e fui até a cozinha pegar um pedaço de pudim de leite. Acendi um cigarro pelo caminho e abri a porta do meu quarto. Deixei o prato com o pudim na minha antiga escrivaninha e me debrucei na janela do meu quarto. Meus pais se mudaram a uns quatro outonos atrás e fizeram questão de trazer todo o meu quarto de garota para cá. Minhas revistas, meu puff azul, meus bichinhos de pelúcia, ou pelo menos os que eu deixei para trás quando fui morar com Lucas. Dei mais um trago do meu cigarro e encarei o meu celular. Eu precisava falar com ele e não podia esperar o sol nascer.

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